Na passada segunda-feira, dia 22/11/21 tive o privilégio de assistir à lição anual da Finisterra realizada no auditório Orlando Ribeiro no IGOT. Esta lição contou com uma introdução de Margarida Queiroz, Diretora da revista Finisterra; José Manuel Simões, presidente do IGOT e José Luís Zêzere, Diretor do CEG (Centro de Estudos Geográficos), com os habituais agradecimentos aos presentes e ao orador convidado, importância desta lição anual dinamizada pela Finisterra.
A seguir, foi convidado a sentar-se na mesa o professor Herculano Cachinho para fazer uma apresentação ao orador convidado, neste caso, Jacques Lévy, geógrafo, cientista social e urbanista Francês. Nesta publicação irei abordar os temas referenciados na apresentação "The Ethical Turn of the Global Society", que me suscitaram mais interesse, de mencionar as dificuldades encontradas na compreensão de alguns dos temas, dada a sua complexidade e também associada à barreira da linguagem, visto que nem o inglês de Jacques Lévy, nem a minha compreensão do mesmo são perfeitos.
Uma das teorias de Jacques Lévi que achei mais interessante foi a que o geógrafo associou ao conceito de "Arbitration". Desta forma Lévi divide a sociedade em três grupos sociais, que se distinguem pela possibilidade/oportunidade de "escolher". O grupo superior é aquele que não precisa de "escolher", dado que não precisa de abdicar de nada, o grupo inferior é aquele que não pode escolher, ou seja, terá de aceitar tudo aquilo que conseguir obter, e o grupo intermédio é aquele que pode e deve escolher, consoante aquilo que considera mais favorável ao seu bem-estar. Em diferentes fases da nossa vida podemos estar inseridos num grupo social diferente, dando a esta teoria uma dimensão de fluidez que não encontramos, por exemplo, na habitual que divide a sociedade em classe alta, média e baixa. Um exemplo prático dessa fluidez é uma família monoparental que vai ter menos possibilidade de escolha do que outrora quando os pais ainda estavam juntos. Esta posição é interessante porque considera não só as condições mas também a condição social do mesmo, dado que em determinadas sociedades ainda existem grupo que não têm possibilidade de escolher ainda que possam ter condições económicas para o fazer.
Jacques Lévi, abordou ainda o tema da "Psicopolítica", onde menciona as múltiplas identidades que as pessoas têm hoje em dia, muito mais do que no passado. Estas múltiplas identidades são associadas à globalização e à descaracterização das regiões que promove a desvinculação da população com o território onde vivem. O ressurgimento do nacionalismo é interpretado como uma oposição a esta tendência, mas no meu ponto de vista apenas a corrobora, a identidade subiu um nível de escala, passou de uma escala regional para nacional, ou seja, mesmo a faixa da população mais tradicionalista, sofreu uma mutação na sua identidade.
Associado ao conceito de "Psicopower" foi ainda projetado um cartaz encontrado numa rua que não é possível identificar, que dizia "Amor, compaixão, respeito e veganismo", e o debate que se levanta em relação a este cartaz é a associação de uma questão discutível como o veganismo ser associada a princípios morais indiscutíveis como o amor, compaixão e respeito. Eu associo a relação atribuída aquelas palavras a um extremismo ideológico, que pretende tornar os valores que acreditam ser os certos em algo obrigatório e indiscutível para todos, muito associado ao binarismo. Verdades absolutas são perigosas porque não dão lugar a debate, debate esse que cria evolução, e que curiosamente levou ao crescimento da discussão de temas como o veganismo e promoveu a subsequente inclusão na sociedade, ou seja, associar o veganismo a algo indiscutível é estar a destruir o meio que levou à sua criação e bloquear qualquer teoria mais sustentável que possa existir no futuro.
Gostaria ainda de abordar ainda a dicotomia entre hospitalidade e cidadania, e entre caridade e solidariedade, menciono as duas em simultâneo dado que considero que a sua base é semelhante, a diferença entre ajudar a sobreviver ou conceder um papel de ator na sociedade. A hospitalidade e a caridade estão associados a atos morais como dar um esmola a alguém que vive na rua ou levá-la ao hospital. As consequências destes atos não se estendem por um grande período, são momentâneas, não mudam a vida de ninguém. Pelo contrário temos a cidadania e solidariedade, fazem parte do entendimento de Ética de Lévy, e consistem em conceder a cidadania e integrar na sociedade através do rendimento social de inserção, por exemplo, bastante discutido em Portugal. As consequências perduram no tempo e proporcionam-lhe o controlo da sua própria vida. A caridade, apenas permite à pessoa ajudada, sobreviver, ocupando todo o seu tempo a fazê-lo, mantendo-se assim nessa situação eternamente. A solidariedade ajuda as pessoas apenas até elas conseguirem ganhar controlo sobre as suas vidas, serem os atores das mesmas, dando-lhes tempo para ambicionar mais do que a sobrevivência. Deste modo, não há pessoas eternamente desresponsabilizadas, mais tarde, quem recebe a solidariedade, vai acabar por "dar" solidariedade.
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